Uma velha fábula diz que Deus fez a verdade na forma de um grande espelho que se partiu em inúmeros pedaços, de modo que cada pessoa possui apenas uma pequena parte desse espelho, refletindo parcialmente essa verdade. Recursos tecnológicos favorecem o tráfego de notícias e as “verdades” tornam-se “evidentes” quando reforçada pelo meio veiculante e pelo emissor crível, uma pessoa, um veículo ou uma instituição. Toma-se por “verdade” o convencimento aceito e inquestionável, de modo que idéias são defendidas por algumas pessoas como se estas fossem originariamente suas. Nesse tráfego, apelidos e jargões “pegam” quando a crítica pessoal é empanada pela emoção e a razão dá lugar às reações impulsivas e sem medida.
A verdade é valorizada e ganha o status de “notável” quando é objeto de pesquisadores e cientistas, especialmente ligados a uma instituição científica reconhecida. Abnegados, esses cientistas debruçam-se sobre a “verdade” e buscam em procedimentos e metodologia pela confirmação de suas hipóteses. Afirmações do tipo: “tomate faz bem para a próstata”, rapidamente é aceita como absoluta e induz a uma mudança de comportamento social sem grandes questionamentos e com adeptos e defensores dedicados, afinal, “os cientistas disseram”, portanto é verdade!
Um fato se caracteriza pela evidência que o determina, como exemplifica a seguinte afirmação: “o cão está morto”. Deixando os aspectos transcendentes de lado, a afirmação de que o cão está morto é passível de verificação e a constatação o torna inquestionável. O homem não sofre pelo fato, mas sim pela presunção do fato. Eu explico. A constatação da morte do cão nos leva a uma inevitável construção em uma cadeia de questionamentos e afirmações, do tipo: “como morreu o cão?”, “será que sofreu antes de morrer?”, “ele era um cão bom e educado”, “gostava do dono”, “era jovem” etc. Quando elocubramos em torno das presunções que circundam um fato, vivemos o sofrimento emocional em razão da idéia relacionada ao fato, e não ao fato em si.
Além da constatação do fato, a credibilidade de uma informação se firma no prestígio do emissor e a fidedignidade de sua fonte. Este, pela força da retórica e pela eficácia do veículo propagador, se valoriza diante de seu grupo à medida que mobiliza emoções e opiniões a cerca do fato, gerando polêmica. Notícias sobre fatos se transformam pela distância ou proximidade emocional do noticiador com os envolvidos, ou mesmo pela familiaridade com o evento em questão. Um repórter que tenha sido vítima de violência na infância de algum modo responderá emocionalmente na cobertura de um acontecimento assemelhado, ainda que sob a égide profissional.
Afirmou Montesquieu: “A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos”. A reflexão favorece a ponderação e o discernimento, que orienta ao caminho da verdade. Tantas serão as descrições quantos forem os observadores, considerando os critérios e recursos pessoais, seus valores, suas crenças. Assim, o julgamento sem escala na base do bom senso e dos princípios da razão está fadado à parcialidade e ao erro. A mentira inúmeras vezes repetida e replicada traveste-se de verdade e ganha adeptos e defensores – no adágio popular denominada apenas fofoca.
Psicólogo Clínico e Mestre em Psicologia da Saúde com Dissertação sobre Hipnose.
Clínica com atendimento em São Paulo e em São Bernardo do Campo.
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